1 de nov. de 2017

“Nunca morreram tantas pessoas assassinadas no Brasil”, diz pesquisador - Silvano Mendes RFI

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“Um outro aspecto que chama atenção no documento é o aumento de mortes decorrentes de intervenções policiais. ‘A questão da letalidade policial é um problema crônico e com o qual temos muita dificuldade de lidar. Temos agora um dos números mais altos da nossa série histórica para mortes decorrentes de intervenção policial, com 4.224 casos em 2016. Dentro de nossa série histórica, atingimos o pico mais alto de mortes por policiais militares ou civis. Dentro de algumas unidades da federação, de alguns estados brasileiros, é possível encontrar taxas mais altas, mas para o conjunto do Brasil, essa é a primeira vez que a gente consegue alcançar um número tão alto como esse’, contextualiza Marques”.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou esta semana um Anuário Brasileiro da Segurança. O documento, que está em sua 11ª edição, compila e analisa os dados sobre a violência no Brasil. Para falar sobre o assunto, RFI Convida David Marques, pesquisador do Fórum.
Sete pessoas são mortas por hora no Brasil, segundo as informações do Anuário Brasileiro de Segurança. Para David Marques, “esse é um dado bastante preocupante. A gente supera a marca de 60 mil pessoas assassinadas no Brasil em 2016. Conseguimos chegar neste número porque a gente faz um trabalho por meio da Lei de acesso à informação. Pedimos a todas as secretarias de Segurança Pública dos estados brasileiros responsáveis pelos registros das informações criminais e boletins de ocorrência”, explica o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança.
Um outro aspecto que chama atenção no documento é o aumento de mortes decorrentes de intervenções policiais. “A questão da letalidade policial é um problema crônico e com o qual temos muita dificuldade de lidar. Temos agora um dos números mais altos da nossa série histórica para mortes decorrentes de intervenção policial, com 4.224 casos em 2016. Dentro de nossa série histórica, atingimos o pico mais alto de mortes por policiais militares ou civis. Dentro de algumas unidades da federação, de alguns estados brasileiros, é possível encontrar taxas mais altas, mas para o conjunto do Brasil, essa é a primeira vez que a gente consegue alcançar um número tão alto como esse”, contextualiza Marques.
Dificuldade da Justiça brasileira de lidar com crime e violência
 “Temos um cenário complexo dentro do Brasil. Um paradoxo, uma coisa bastante difícil de explicar. Regiões que conseguiram nos últimos 10, 15 anos, reduzir um pouco a questão da desigualdade socioeconômica também foram locais onde verificamos acréscimo da violência, principalmente os estados e capitais da região Norte e do Nordeste brasileiro. É ali que a gente verifica o maior crescimento. Contudo, alguns estados da região centro-Oeste também verificaram crescimento dos seus índices de homicídio.
“Em alguma medida, isso tem a ver com a dificuldade do sistema de segurança e Justiça criminal para lidar com o crime e a violência. Por muito tempo esses foram, e ainda continuam sendo, de fato, setores da política pública que não têm prioridade política, tanto do ponto de vista de investimentos feitos de forma eficiente, quanto esse tema acaba ficando refém de discursos refratários à mudança, e discursos que acreditam que a violência é a melhor maneira de controlar a própria violência”, diz o especialista.
“O que o Anuário mostra esse ano é que essa estratégia de controle do crime não vem dando certo. Nunca morreram tantas pessoas assassinadas, nunca tantos policiais morreram assassinados, e nunca tantas pessoas morreram vítimas de homicídios policiais”, afirma David Marques.

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