3 de nov. de 2017

É hora de pararmos de quebrar os meninos por dentro! Cida Alves


É hora de pararmos de quebrar os meninos por dentro!
Em nome de um ideal masculino que valoriza a supremacia sobre os seus semelhantes e despreza, deprecia ou cultiva o ódio ao feminino*, usurparmos dos meninos o direito legítimo de expressarem seus sentimentos e de viver livre e plenamente sua sensibilidade.

A socialização que idealiza o sofrimento (dor física e\ou emocional intencionalmente provocadas) como um instrumento de fortalecimento dos meninos cria as condições sociais e afetivas para desenvolver o embotamento da empatia nos homens, que se manifesta na frieza emocional em relação ao sofrimento do outro.

Dentre os prejuízos causados pelo uso de violências na educação e no cuidado de crianças e adolescentes, estão o desenvolvimento de uma frieza, de uma indiferença por parte dos adultos em relação à dor e ao sofrimento dos mais jovens. O principal fator que leva a aprovação do adulto de uma determinada forma de violência física ou psicológica é tê-la sofrido na infância.

A socialização pela violência tem deformado as crianças e gerado adultos com uma limitada capacidade de empatia. Nas relações interpessoais, em especial com as crianças, esse adultos não ultrapassam a margem das superficialidades, das aparências.

Para o filósofo Theodor Adorno uma educação que valoriza o "ser duro" com os mais jovens estimula o desenvolvimento de uma cultura de indiferença em relação à dor em geral. Suportar a dor em si como um ideal de força e poder, leva ao entendimento de que é necessário perpetrar a dor no outro como um meio de fortalecimento dos aprendizes.

As pessoas que são severas consigo mesmo, em nome de um suposto fortalecimento pessoal, sentem-se no direito de serem severos também com os outros, vingando-se no próximo as dores que teve que suportar calado em seu passado.

Cida Alves




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Leitura recomendada!


Os que a sociedade espera dos homens
Por Marcelo Feijó de Mello





Sentada à minha frente, ainda uma menina, sufocada por sua angústia fala com dificuldades. As horríveis memórias a assombra mesmo em seus sonhos através de pesadelos massacrantes. O pavor trava sua mente e sua vida. Ela é mais uma das milhões de mulheres que foram estupradas por homens. Aqui no Brasil são 60.000 estupros registrados todos os anos (isto então quer dizer que um número muito maior de mulheres estão por aí escondidas).

Impossível não sentir compaixão, piedade e empatia por tamanho sofrimento. Por minha profissão sinto vontade de cuidar e amenizar este sofrimento. Como homem sinto raiva de pessoas do meu gênero, que cometeram tal barbárie. Um misto de desprezo por estes agressores, mas também de vergonha, neste momento, por também ser homem, por saber que muitos são assim, e que se não chegam a este extremo de violência e desrespeito à humanidade, pensam serem superiores, com mais direitos, e até donos de outros seres humanos que não são de seu gênero ou orientação sexual. 

Os estupros são o extremo, e que se mesmo assim são tão frequentes, fica claro que o assédio é epidêmico. São atitudes de intimidação, limitações e imposições de barreiras que fazem parte de nossa sociedade e de nossa cultura. Representam o atraso e nos coloca para trás. O assédio é inaceitável. Nós homens devemos agir, as mulheres já estão nos mostrando este atraso. Em nossas atitudes devemos nos impor e menosprezar e coibir homens assediadores. 

Os assediadores agem como predadores, percebem as fragilidades e as ocasiões para darem seus botes. Dominam inicialmente com olhares de desprezo, ou ameaça e pela imposição de sua maior força física. Mas covardes ladinos, seduzem as pessoas mais predispostas e enfraquecidas preparando suas armadilhas. O assediador é falso, e tenta se impor também entre os homens, principalmente entre mais inseguros, que ainda se iludem com o poder da força e do sexo brutal. São enganados por falsos homens que se gabam de suas boçalidades. 

Atitudes que desprezam, coisificam e subjugam as mulheres devem ser rejeitadas. São atitudes do atraso e das trevas. Quem as praticam devem ser contidos e intimados. Homens com estas atitudes não devem fazer parte dos nossos círculos de homens, mulheres e crianças.

A masculinidade não está na força física. Milhares de anos se passaram desde que a inteligência suplantou a força bruta. A masculinidade está na capacidade de ser continente e dar proteção. Um homem é aquele que dá segurança por seu caráter. Aquele que é confiável. Precisamos vitalmente das mulheres, com suas capacidades e talentos. Uma sociedade bem-sucedida é aquela que consegue compor com todas as suas diferenças e capacidades. Sem as diferenças não há vida.

Fonte: Prove Unifesp


*historicamente associados aos comportamentos, expressões corporais e afetivas dos papeis sociais atribuídos ao gênero feminino.

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