20 de abr. de 2017

Não se previne suicídios e\ou automutilações com “chineladas azuis” – Cida Alves



Estimadas mães, pais, familiares e responsáveis, MUITA ATENÇÃO!


Sou psicóloga e me sinto no dever de esclarecer que as tentativas de suicídios e\ou automutilações não são "pitis", as pessoas não cometem essas violências físicas contra si mesmo apenas para “chamar atenção”. Esses atos são na verdade a expressão, a exteriorização de uma dor, de um sofrimento aniquilador. 


Usarei uma metáfora para ajudá-los a entender a grandeza da dor que sentem essas pessoas. Imaginem que dentro de seu corpo, abaixo de toda a pele que o reveste, em vez de sangre corre uma larva incandescente de dor e sofrimento. Imaginem que essa dor queima insensatamente dentro de vocês, agora pensem e me digam:  o que vocês seria capazes de fazer para sentir um segundo de alivio? 

Após se colocarem verdadeiramente no lugar do outro que sofre, me digam: vocês acreditam que mais dor e sofrimento vai ajudar?

Vocês realmente acreditam que o julgamento cruel e as punições físicas (“chineladas azuis”) vão ajudar essas pessoas a encontrarem uma saída?

 No momento mais doloroso e angustiante de sua vida, o que vocês esperaram dos outros?


Crédula na sensibilidade e na responsabilidade de vocês, apelo! Não compartilhem, nem façam a defesa de que quem tenta suicídio ou se automutila merece é uma boa surra, uma chinelada. Não levem o debate para esse lado, pois vocês correm o risco de viverem ou contribuírem para que alguém viva uma tragédia dentro da própria família. 


É muito importante vocês atentarem para as mudanças bruscas no comportamento, tais como: 

a) isolamento e falta de ânimo\energia; 

b) irritabilidade e choro fácil e constante; e 

c) ações ou palavras que demonstram descrença na vida ou em projetos de futuro, expresso em frases como: a vida não tem sentido, as pessoas seriam mais felizes sem mim, tudo é um vazio em minha vida, dentre outros. 

Se comportamentos como esses são muito frequentes em alguém de sua família, de seu círculo de amizade ou de trabalho, procurem antes de tudo apoiá-lo, compreenderem melhor o que está acontecendo e, principalmente, busquem uma ajuda profissional para que ele receba a atenção e o cuidado adequado. 


Não se deixem levar pela conversa das pessoas que acham que bater, castigar, dar chineladas vai resolver, porque vocês podem, ao apostar nesta proposta, perderem um filho ou uma filha. Acredito que ninguém merece viver a tragédia de perder um filho, uma filha ou uma pessoa amada por suicídio. 


Cida Alves - Goiânia, 20 de abril de 2017.

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