10 de mar. de 2017

Marcha de vestidos de Zuzu - Cida Alves




Marcha de vestidos de Zuzu
O vestido preto remete a cor da fumaça do escapamento.

Miúdos crucifixos esmagam sua cintura.

Falta de ar, tose, sufocamento.

Imagens em redemoinho negam a quietude do esquecimento.

Seu ventre deu à luz o filho

Frente a dilacerante dor, pede pouco: receber o corpo do filho.


Os ferozes não escutam as mães

As mães não se calam.

Sobre o colo vazio e frio, suas mãos com desatinada coragem enfiaram linhas coloridas em agulhas e bordaram sua revolta, sua fúria!

Sem lenços brancos nos cabelos, não contou com o alento de outros olhos tristes como os seus.


Só, sempre só, fez de seu ofício rua em marcha, multidão de vestidos em protesto.

E assim, sozinha, na rua, o assassino a encontrou no meio do caminho.

Seu sapato de salto voou para o asfalto.

Seu espírito indômito ora alinhava estrelas em nuvens e carretéis,
Ora pousa no coração de uma mãe que grita novamente por seu filho.

Mães da Candelária

Mães de Acari

Mães dos meninos exterminados em Goiás


Cida Alves



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