22 de mar. de 2016

Estado democrático de direito nunca foi uma realidade nas favelas - Mônica Francisco


"O Estado dito democrático de direito, nunca foi uma realidade nas favelas. A violação dos direitos nestas áreas beira o limite do imaginável e do aceitável. Neste mês, muitas memórias, entre elas a instauração do Ato Institucional de número 5 (trevas) e a morte de Cláudia Silva Ferreira, que depois de assassinada por policiais, teve seu corpo supliciado, ao ser arrastada pela viatura que o transportava.
Nossas tristes memórias, memórias de dor, que nos colocam em xeque, tanto quanto nação, tanto como pessoas. Não podemos nos permitir o retrocesso e nem a continuidade do Estado de exceção vivido por uma população que vive nas mais vulnerabilizadas".

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Jornal do BrasilMônica Francisco *
"Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a nossa Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação". Assim, lembrando a emblemática música do Legião Urbana, inicio meu artigo deste domingo, após pensar muito em tudo que temos vivido, visto, ouvido e sentido.
Me orgulho de escrever para um jornal que sempre buscou ser um pouco mais coerente com a tarefa de informar, embora também e óbvio influenciar na formação da opinião dos cidadãos e cidadãs, leitores e leitoras deste veículo, antes impresso, hoje completamente on line.
Mais ainda em poder ser uma das vozes oriunda das favelas do Rio de Janeiro e compartilhar os olhares deste lugar sobre a vida, o cotidiano e tudo o que que diz respeito a nós.
O Estado dito democrático de direito, nunca foi uma realidade nas favelas. A violação dos direitos nestas áreas beira o limite do imaginável e do aceitável. Neste mês, muitas memórias, entre elas a instauração do Ato Institucional de número 5 (trevas) e a morte de Cláudia Silva Ferreira, que depois de assassinada por policiais, teve seu corpo supliciado, ao ser arrastada pela viatura que o transportava.
Nossas tristes memórias, memórias de dor, que nos colocam em xeque, tanto quanto nação, tanto como pessoas. Não podemos nos permitir o retrocesso e nem a continuidade do Estado de exceção vivido por uma população que vive nas mais vulnerabilizadas.
Precisamos nos apropriar do que conquistamos, tanto na favela, quanto em todas as instâncias deste país. Devemos acirrar a luta pela consolidação da nossa democracia, principalmente, onde mesmo depois de 1985, ano que encerrou um período sombrio da nossa história brasileira, continuemos à viver como cidadãos e cidadãs de segunda classe.
Precisamos avançar, na favela, fora dela, em todas as áreas. Precisamos tomar como objetivo principal, vivermos a República democrática que lutamos por viver, todos e todas nós. Amadurecer causa muitas dores, todas elas inerentes ao crescimento e amadurecimento. Mas também nos traz muitas conquistas. 
São nas pequenas mudanças diárias, que as grandes mudanças se constroem e se consolidam. Consolidadas nos permitem viver a cidadania plena, não sem problemas, porque eles sempre aparecerão, mas com maturidade, dignidade e compartilhamento para resolvê-los.
A nossa maior fonte de soluções, somos nós mesmos, aqui, no local, no cotidiano, na troca e na interação com o outro. Nas relações humanas, no respeito e na construção e na defesa dos bens comuns. 
A nossa luta é todo dia. Favela é Cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL, ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!"
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)
Fonte: Jornal do Brasil, 20 de março de 2016.
Imagem: Geledés, em 6 de novembro de 2014.

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