29 de set. de 2013

“O que tem na trouxa de Maria?” por Cyntia Bernades

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Narrativa inspirada no livro “O que teria na trouxa de Maria?” de Diane Valdez.


 
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O que tem na trouxa da Maria? por Cyntia Bernardes
 
Maria da Purificação!?
Maria do século passado, da pele negra.
De longas caminhadas,
Das ruas, do sol, da chuva,
do almoço ao meio-dia,
talvez dos restos.
Da meninada atentada, Maria enfezada.
Maria das cores, das saias,
dos botões, dos grampos, da trouxa.
Maria do porão da casa da ponte, do obscuro, do silêncio.
Maria de Goiás?
Maria, Maria.
Maria Grampinho.

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Doce Mistério

O que seria?

O que teria?
Essa trouxa recheada!
Trouxa enigmática!
Todos sabiam que algo havia lá
Mas em vez de perguntar
Deixaram a imaginação imperar:
- Doces, brinquedos velhos
daqueles que não se encontram mais,
daqueles do tempo de minha vovozinha.
Que Deus a tenha em paz!
- Serão cartas de amor não correspondidas?
- Serão cartas camufladas, de amor abafado e nunca divulgado?
- Não! Como poderia uma moça de rua causar deslumbramento
em alguém?
- É melhor deixar de devaneios e preconceitos e acreditar
que são cartas
não importa como chegaram lá
mas os segredos que nelas há...
- Com certeza são badulaqueiras,
bagunça e muita sujeira,
coisas perdidas ou cedidas
de alguém que não mais as quer.
E mais e mais pessoas...
Homens, mulheres, crianças,
Velhos e jovens.
Dia após dia.
Tempos em tempos.
Lá estavam...
Pensativos...
E se perguntando:
O que teria na trouxa de Maria?
Eh, Maria!
O que seria
desse povo e da história de Goiás,
se não houvesse o mistério
do que você na trouxa traz?


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Maria Grampinho
- Essa sou eu?
Quem disse?
Aperreada, enfezada, cansada.
Cansada de ouvir abrolhos,
Cansada de causar falatórios.
- Vou lhes dizer...
O que na minha trouxa há de ter.

Silêncio
Suspiro
Serenidade

Há de ter muita saudade
Alegrias, fantasias
Presteza, pureza e tristeza.
Cores, flores, amores, dores
Merendas e doces
Sabores e dissabores.
Aperreios, emburros
Brincadeiras, zoadeiras
e amizades verdadeiras.
Verdades sumidas, assumidas, denegridas.
Canções, corações, emoções
Viagens, mensagens, miragens...
Cicatrizes!!!

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Há de ter também...
Dias e noites
Luz e escuridão
Paz e alvoroço
Mimo, amparo, proteção
Ódio? Quem sabe?
Memória!!!
Pedras, ladeiras e becos
Rezas, crenças e desejos
Sonhos!!!
Há uma vida...
Vida que é minha
e de alguém mais...
Vida que é minha
e da nossa Goiás.


Apresentação do livro “O que teria na trouxa de Maria” - texto de Diane Valdez e ilustração de Alda Mirian Ribeiro
Tudo verdade. Maria Grampinho existiu de carne e osso. Vem de um tempo em que pequenos grampos de metal eram usados para fixar os penteados dos cabelos. Goiás é uma cidade que vem de séculos passados e vários costumes não se repetem mais, como esse de usar grampos nos cabelos. As ruas tortas e silenciosas da velha cidade conversam com a gente. Trazem quase um convite ao silêncio. Então tem gente que, de maneira mais radical, prefere ficar sozinha, falando consigo mesma, conversando com seus botões. São raros. Mas existem. Maria Grampinho existiu. Eu vi. Embora preferisse estar sozinha, foi amiga minha e de minha mãe. Amiga só de beirar a casa, de aceitar o prato de comida. Amiga só de ouvir e concordar com leves acenos de cabeça. Sua expressão de amizade vinha do olhar humilde e doce. O mistério: não se sabia o que havia na trouxa de Maria. Sua inseparável trouxa, que carregava devagar pelas ladeiras, pelos largos, ao longo da rua que acompanha o Rio Vermelho. Sua trouxa repousava ao seu lado, no porão da Casa de Cora, a poetisa fazedora de doces cristalizados.
Salve Diane Valdez, que, com brilhante iniciativa e estilo poético, escreveu essa bela história, dirigida ao público infanto-juvenil. Maria Grampinho merece. Goiás merece. Os leitores merecem. Afinal, esse mundo vai ficando meio esvaziado de mistérios e encantamentos, o que a velha Vila Boa tem de sobra. Seu texto é limpo e cadenciado. Isso permite ver a personagem a perambular, com sua trouxa nas costas. Dá até para ouvir o sino do Rosário bater. Dá para ouvir as zombarias dos meninos que não souberam compreendê-la. Dá para sentir seu mundo interior, tão misterioso e lunático quanto sua própria trouxa. É fundamental que textos assim sejam publicados, para remeterem as pessoas de volta ao mundo dos sonhos, do encantamento, da beleza. Diane Valdez elaborou um belo e profundo trabalho, chegando até a emoção das pessoas, como o fazia a inesquecível Cora, de quem Maria Grampinho fora, por muito tempo, inquilina.
Salma Saddi - Cidadã vilaboense e Superintendente Regional do IPHAN

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Fotos da dramatização da narrativa “O que tem na trouxa de Maria?” de Cyntia Bernardes no 21 Encontro da RedeCentro - estudo interinstitucional da região centro-oeste (UFG/UFT/UnB/UFMS/UFMT/UFU/UNIUBE).



Participantes da dramatização:
Cyntia Bernardes
Cida Alves
Ione Mendes
Rodrigo Roncato
Autora das fotos: Fabrícia da Silva

 

Foto Cyntia Aparecida de Araújo Bernardes possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Goiás (2008), é mestra do Programa de Pós-Graduação em Educação na mesma instituição, bolsista Cnpq e pesquisadora vinculada à pesquisa: "A produção acadêmica sobre o(a) professor(a): estudo interinstitucional da Região Centro-Oeste". Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino-Aprendizagem. Atuou como professora e coordenadora pedagógica na Educação Infantil da Rede Municipal de Goiânia. Desenvolveu atividades de docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no CEPAE (Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação- Colégio Aplicação) da Universidade Federal de Goiás (2009/2010), onde participou também dos seguintes Projetos de Pesquisa: Laboratório de Formação de Conceitos(Labrinco), Núcleo de Estudos e Pesquisas no Ensino de História (NESPEH) e Educação Inclusiva. Foi integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Literatura Infantil - GEPELIN (2007-2010) e atualmente faz parte da REDECENTRO - Rede de pesquisadores do Centro-Oeste, ambos vinculados à Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Tem experiência, também, na área de Treinamento e Desenvolvimento de pessoas, uma vez que atuou como Instrutora de Treinamento em instituições como o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e na Halex Istar Industria




































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