29 de fev. de 2012

Banalização de crimes sexuais

 

Vivina do C. Rios Balbino

Absurdamente, a cada oito minutos, uma criança é abusada sexualmente no Brasil e, a cada 10 horas, uma criança é assassinada segundo a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Em seis anos, o Ministério da Saúde registrou 5.049 homicídios de pessoas com até 14 anos. Infelizmente, esses crimes hediondos acontecem pelo país afora e são diariamente estampados na mídia. São crimes revoltantes que causam repugnância por ofender valores morais e éticos, mas por que ainda são tão comuns? Com certeza, faltam bons projetos de prevenção e punição.

Brasília virou o ano de 2011 sob o impacto de vários crimes bárbaros contra crianças evidenciando total descaso do governo e de órgãos competentes. Um pedreiro foi preso acusado de sequestrar, violentar e matar cruelmente uma menina de 9 anos no domingo de Natal. Foragido da polícia de SP e de MG, esse criminoso fazia vítimas indefesas. Por que a Justiça tanto falha? A promotora de Justiça Maria José Miranda disse que, tendo um sistema de cadastro unificado identificando os foragidos do país, esse suposto estuprador poderia ter sido preso rapidamente. Por que não existe esse cadastro? Um padre foi preso em Brasília acusado de abusar sexualmente de seis crianças pobres, filhos de fiéis da igreja com idades entre 5 e 14 anos. Foi preso deitado na cama ao lado de uma mulher nua. Delitos de um padre dito "representante de Deus"? O celibato não implicaria castidade? Um pastor também foi detido em Brasília acusado de vários crimes sexuais infantis no mesmo período, assim como vários outros pais/parentes.

Outro pai foi preso por abusar e engravidar a própria filha aos 11anos. Abusos que duraram anos. Absurdamente, essa criança tem um filho do seu próprio pai. Terrível trama, onde um tio também abusava da menina e foi preso. Como conceber violações de direitos tão repugnantes e tão comuns? A Justiça brasileira precisa agir com mais rigor em crimes de pedofilia. São crimes hediondos e deixam graves cicatrizes físicas e psicológicas. Importante que o governo e órgãos competentes ajam com rigor na prevenção (campanhas competentes na mídia, especialmente TV, escolas e comunidades) e punições exemplares. Aliado a isso, é fundamental que conteúdos eróticos e sexuais nas programações televisivas e músicas apelativas sejam regulamentados. Ai se eu te pego é um bom conteúdo? Cantada e dançada até por pequenas crianças inocentes assim como foi com Na boquinha da garrafa, cantada e dançada até em festinhas infantis na década de 1990.

O que fazem os órgãos de regulamentação de conteúdos abusivos e indutores de desvios sexuais na mídia brasileira? Com certeza, esses abusos incentivam práticas sexuais precoces e/ou comportamentos inadequados. Esses crimes, tragédias e abusos parecem normais? Recentemente, assistimos a um estupro virtual no BBB? Esses fatos merecem profunda reflexão e ações efetivas do governo. Coibir tantos abusos é parte da prevenção, assim como punição rigorosa da Justiça. Infelizmente, há uma banalização de desvios e certa complacência social. Importante repensar nossos valores, prioridades e práticas sociais.

É hora de dar um basta à crise moral, ética e de impunidade que vivemos e assumir nossa condição de cidadãos comprometidos com um mundo mais civilizado, onde as pessoas aprendam a respeitar os direitos dos outros como querem que os seus sejam respeitados. Educar para o sexo, paternidade e maternidade com responsabilidade é necessário. Independentemente da escolaridade e do nível social, todo cidadão pode e deve assumir o seu compromisso social responsável na coletividade fazendo melhor esse mundo. Educação nas famílias, nas escolas em todos os níveis de escolaridade e comunidades com conteúdos em direitos humanos, cidadania, coletividade e civilidade devem ser praticados. Civilidade, uma cultura pela paz e respeito aos direitos humanos deve ser a meta. Muito importante também a atitude cidadã de vigilância constante e de denunciar quaisquer violações de direitos dentro e fora de casa. Somente dessa forma deixaremos de iniciar novos anos em pleno século 21 com relatos de crimes tão cruéis.

Viviane Balbino Livro

 

Vivina do C. Rios Balbino, psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil.

Fonte: CORREIO BRAZILIENSE - DF | CIDADES - PSICOLOGIA 27/02/2012

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