4 de ago. de 2010

Educar ou punir

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*Silvia Rosa Silva Zanolla



Os meios de comunicação têm noticiado com freqüência casos de violência contra crianças. Estarrecidos indagamos: o que está acontecendo com os adultos? A violência de fato aumentou ou é porque ampliação da comunicação virtual facilita a propagação desse tipo de notícia? O que se sabe é que os tipos de violência variam: abandono, abuso sexual, tortura, espancamento e humilhações as mais diversas. Importa uma reflexão a partir de simples atitudes que parecem banais, mas que reflete pouco preparo dos adultos para lidar com a educação das crianças, como por exemplo, a atitude de bater.

Costuma-se aceitar o ato de bater na criança quando a questão é educar. Apesar de polêmica, as “boas palmadas” resistem ao tempo e à ignorância de uma sociedade que se vê insegura pela confusão entre o limite e a punição, o educar e a correção. Espancar uma criança pode parecer natural quando os argumentos remetem a um tempo em que, para o adulto, bastava o olhar dos pais e a criança obedecia. O fato é que a violência aumenta ao tempo em que aumenta a falta de limites.

Embora a miséria influencie o índice de agressões, é um mito pensar que as agressões às crianças se restrinjam a problemas econômicos e sociais. A violência não escolhe classe social. Uma vez que comparece das mais variadas maneiras não é tarefa fácil identificá-la. Sem o intuito de pré-julgar, parece difícil tentar compreender o que faz com que um adulto maltrate um ser tão indefeso quanto uma criança. As hipóteses são as mais variadas: ignorância, dificuldades emocionais, vícios, problemas financeiros e outros. Uma vez que a explicação para tal barbárie parece não importar diante da grandeza da crueldade, torna-se comum que o agressor seja simplesmente punido e que a violência caia no esquecimento.

A violência física e psíquica recorrente reforça o fracasso social e a ignorância da cultura e da humanização. Remete a uma projeção como ferida narcísica que teima em não cicatrizar. É necessária uma tomada de consciência da sociedade e suas instituições no sentido de promover atividades e campanhas educativas que possam contribuir para que a violência à criança não se banalize e seja extinta do cotidiano. É preciso recriar uma nova mentalidade sobre o significado do limite para a educação. Ensinar a criança a ouvir não, a lidar com a frustração de não ter todos os desejos atendidos é condição indispensável para a sua formação. Não obstante, a este caminho precede a disposição do adulto para dialogar, administrar a relação com paciência e, sobretudo, exercitar os seus próprios limites com a criança; tarefa nada fácil, mas que dela dependerá o futuro, as condições de sobrevivência e a preservação da humanidade.

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Silvia Rosa Silva Zanolla - Possui graduação em Serviço Social e Psicologia, ambos os cursos pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO), Mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professora efetiva da Graduação e da Pós-graduação da Faculdade de educação da Universidade Federal de Goiás (FE/UFG), com experiência em pesquisas com ênfase em psicologia social e educacional a partir da abordagem teórico crítica da Escola de Frankfurt. Desenvolve estudos e pesquisas sobre indústria cultural; infância, consumo e violência; concepção de infância em Adorno; jogos eletrônicos e formação de valores; comunicação e teoria crítica; metodologia e espistemologia. Possui trabalhos, artigos e pesquisas sobre a identificação de crianças com o videogame, comunicação e cultura, teorias da aprendizagem, teoria crítica e sociedade, arte, poder e cultura.

Fonte: Artigo publicado em 5 de julho de 2009 no jornal O popular (Goiânia- Goiás)

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